"Um Dia para Camões em Coimbra" celebra a força da língua portuguesa
O Convento São Francisco acolheu o evento “Um Dia para Camões em Coimbra”, que reuniu mais de 400 estudantes para celebrar os 500 anos do nascimento do poeta.
Mais de 400 estudantes lotaram a Sala D. Afonso Henriques, no Convento de São Francisco, para celebrar "Um Dia para Camões em Coimbra". O evento, que reuniu personalidades da literatura e da cultura lusófona em homenagem aos 500 anos do nascimento de Luís de Camões, foi promovido pela Universidade de Coimbra (UC), pela Câmara Municipal de Coimbra (CMC) e pela União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA). A iniciativa contou com a participação presencial dos escritores galardoados com o Prémio Camões, Hélia Correia e Germano Almeida, além de uma declaração de Manuel Alegre, lida pelo moderador do encontro, o jornalista e poeta José Carlos Vasconcelos.
Qual é o elo de ligação entre Luís de Camões, um escritor de 500 anos atrás, e os jovens de hoje? Essa foi a pergunta que Paula Leal da Silva, Secretária-Geral Adjunta da UCCLA, procurou responder. Para ela, "o elo de ligação se relaciona com um aspeto absolutamente inquestionável: o facto de os grandes génios, nomeadamente Luís de Camões, serem sempre intemporais."
Paula Leal da Silva acrescenta que Camões permanece atual e deve ser apresentado às novas gerações como uma referência viva: "Camões soube descrever a identidade de Portugal, mas também as emoções, os encantamentos, a melancolia, tudo aquilo que nos define. É por isso que, ao lê-lo, nos reencontramos. A cultura não pode ser um dever, tem de ser um prazer."
O Reitor da Universidade de Coimbra, Amílcar Falcão, destacou a importância da efeméride e a ligação do poeta à instituição, "é um privilégio celebrar Camões no ano em que a Universidade de Coimbra comemora 735 anos da sua fundação e 700 anos da morte do seu fundador, El-Rei D. Dinis.”
Amílcar Falcão ressaltou a forte ligação de Camões a Coimbra, afirmando que "no caso da Universidade de Coimbra, a sua figura [de Camões] se cruza com um pilar essencial da história da instituição," o que foi determinante para que a UNESCO inscrevesse a Universidade de Coimbra, Alta e Sofia na lista de Património Mundial em 2013. O Reitor acrescentou ainda que a distinção reconhece "a relevância central dessa dimensão imaterial da candidatura, bem como o papel da Universidade e da cidade de Coimbra na difusão e defesa da língua e cultura portuguesas."
Hélia Correia refletiu sobre a forma como o poeta é percebido nos dias de hoje, "do meu ponto de vista, trata-se de uma figura da literatura portuguesa magnífica, excelente, mas que não é amada. É admirada, estudada, escalpelizada, mas falta-lhe um elemento essencial que outras nações e idiomas cultivam em relação aos seus escritores: o amor".
A escritora destacou ainda as singularidades de Camões: "Todos os grandes escritores têm particularidades, e Camões possui muitas. Seria infinito enumerar todos os relevos que sua obra vai fazendo. Aquilo que gosto de sublinhar nos dias de hoje é que suas obras são verdadeiras obras magnas da língua portuguesa". E concluiu: "De certo modo, ali, a língua portuguesa encontrou o seu monumento inicial".
Já Germano Almeida lamentou o afastamento de Camões da literatura cabo-verdiana após a independência: "Deixámos Camões, o que é uma pena. No entanto, a sua influência perdura". O escritor destacou a proximidade que sente com o poeta: "Costumo dizer que Camões é-me familiar. Estudei Os Lusíadas com alegria e sabia quase de cor". "A sua forma de escrever continua a marcar-nos", admite.
O presidente da Câmara Municipal de Coimbra, José Manuel Silva, sublinhou o espírito aventureiro do poeta e a sua relação com os jovens: “Camões foi um aventureiro da vida, do amor, das descobertas e da literatura. Celebrá-lo é percorrer uma vida de desafios, algo que todos nós, em maior ou menor medida, carregamos dentro de nós.”
Para José Carlos Vasconcelos, moderador do evento, a celebração vai além do poeta e reafirma o papel da língua portuguesa no mundo: “É uma sessão sobre a língua portuguesa e a sua presença global. Naturalmente, Camões está no centro dessa conversa".
O evento, que teve lugar a 12 de fevereiro, reforçou a relevância de Luís de Camões como símbolo da lingua portuguesa e destacou a importância de manter viva a sua obra.