"Um Dia para Camões em Coimbra" celebra a força da língua portuguesa

O Convento São Francisco acolheu o evento “Um Dia para Camões em Coimbra”, que reuniu mais de 400 estudantes para celebrar os 500 anos do nascimento do poeta.

KP
Karine Paniza
AB
Ana Bartolomeu
12 fevereiro, 2025≈ 3 mins de leitura

© UC I DCOM

Mais de 400 estudantes lotaram a Sala D. Afonso Henriques, no Convento de São Francisco, para celebrar "Um Dia para Camões em Coimbra". O evento, que reuniu personalidades da literatura e da cultura lusófona em homenagem aos 500 anos do nascimento de Luís de Camões, foi promovido pela Universidade de Coimbra (UC), pela Câmara Municipal de Coimbra (CMC) e pela União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA). A iniciativa contou com a participação presencial dos escritores galardoados com o Prémio Camões, Hélia Correia e Germano Almeida, além de uma declaração de Manuel Alegre, lida pelo moderador do encontro, o jornalista e poeta José Carlos Vasconcelos.

Qual é o elo de ligação entre Luís de Camões, um escritor de 500 anos atrás, e os jovens de hoje? Essa foi a pergunta que Paula Leal da Silva, Secretária-Geral Adjunta da UCCLA, procurou responder. Para ela, "o elo de ligação se relaciona com um aspeto absolutamente inquestionável: o facto de os grandes génios, nomeadamente Luís de Camões, serem sempre intemporais."

Paula Leal da Silva acrescenta que Camões permanece atual e deve ser apresentado às novas gerações como uma referência viva: "Camões soube descrever a identidade de Portugal, mas também as emoções, os encantamentos, a melancolia, tudo aquilo que nos define. É por isso que, ao lê-lo, nos reencontramos. A cultura não pode ser um dever, tem de ser um prazer."

O Reitor da Universidade de Coimbra, Amílcar Falcão, destacou a importância da efeméride e a ligação do poeta à instituição, "é um privilégio celebrar Camões no ano em que a Universidade de Coimbra comemora 735 anos da sua fundação e 700 anos da morte do seu fundador, El-Rei D. Dinis.”

Amílcar Falcão ressaltou a forte ligação de Camões a Coimbra, afirmando que "no caso da Universidade de Coimbra, a sua figura [de Camões] se cruza com um pilar essencial da história da instituição," o que foi determinante para que a UNESCO inscrevesse a Universidade de Coimbra, Alta e Sofia na lista de Património Mundial em 2013. O Reitor acrescentou ainda que a distinção reconhece "a relevância central dessa dimensão imaterial da candidatura, bem como o papel da Universidade e da cidade de Coimbra na difusão e defesa da língua e cultura portuguesas."

Hélia Correia refletiu sobre a forma como o poeta é percebido nos dias de hoje, "do meu ponto de vista, trata-se de uma figura da literatura portuguesa magnífica, excelente, mas que não é amada. É admirada, estudada, escalpelizada, mas falta-lhe um elemento essencial que outras nações e idiomas cultivam em relação aos seus escritores: o amor".

A escritora destacou ainda as singularidades de Camões: "Todos os grandes escritores têm particularidades, e Camões possui muitas. Seria infinito enumerar todos os relevos que sua obra vai fazendo. Aquilo que gosto de sublinhar nos dias de hoje é que suas obras são verdadeiras obras magnas da língua portuguesa". E concluiu: "De certo modo, ali, a língua portuguesa encontrou o seu monumento inicial".

Já Germano Almeida lamentou o afastamento de Camões da literatura cabo-verdiana após a independência: "Deixámos Camões, o que é uma pena. No entanto, a sua influência perdura". O escritor destacou a proximidade que sente com o poeta: "Costumo dizer que Camões é-me familiar. Estudei Os Lusíadas com alegria e sabia quase de cor". "A sua forma de escrever continua a marcar-nos", admite.

O presidente da Câmara Municipal de Coimbra, José Manuel Silva, sublinhou o espírito aventureiro do poeta e a sua relação com os jovens: “Camões foi um aventureiro da vida, do amor, das descobertas e da literatura. Celebrá-lo é percorrer uma vida de desafios, algo que todos nós, em maior ou menor medida, carregamos dentro de nós.”

Para José Carlos Vasconcelos, moderador do evento, a celebração vai além do poeta e reafirma o papel da língua portuguesa no mundo: “É uma sessão sobre a língua portuguesa e a sua presença global. Naturalmente, Camões está no centro dessa conversa".

O evento, que teve lugar a 12 de fevereiro, reforçou a relevância de Luís de Camões como símbolo da lingua portuguesa e destacou a importância de manter viva a sua obra.